(Re)Começar a escolinha com a sala da Marta - Marta Parreira, Educadora de Infância

31-08-2022
(Re)Começar a escolinha com a sala da Marta - Marta Parreira, Educadora de Infância

Um dia a dia orgânico, sem planificação, onde as crianças têm voz ativa e responsabilidade. Na sala da Marta privilegia-se uma educação positiva, com diálogo, e vive-se uma vida democrática com cooperação e solidariedade. Há amor, não só pelo que se sente que nasceu para fazer, como pelos futuros adultos que se ajuda a criar. Um quotidiano onde a troca de experiências, o contacto com a natureza e comunidade envolvente é tido como essencial para a aprendizagem.

Confiança, tranquilidade e transparência, estes são os 3 pilares que Marta Parreira, educadora de infância, considera imprescindíveis na relação entre pais e educadores. Reconhece a dificuldade de manter uma postura confiante e segura, perante a novidade e o desconhecido, mas realça a necessidade de o fazer para que o início seja positivo para todas as partes envolvidas.

Entrar na escolinha e iniciar um novo ano letivo, é um momento de felicidade que deve ser partilhado e promovido como tal. Afinal, é o início de uma nova fase na vida das crianças!

Para Marta, no quotidiano das crianças, tanto na creche como no jardim de infância, é essencial o contacto com a comunidade envolvente e a existência de um espaço exterior que permita brincadeiras para lá das portas.

 

“No meu grupo, por exemplo, passeamos muito, conhecemos tudo o que está à volta da instituição: desde a senhora do café, à senhora da mercearia. Privilegiamos a brincadeira na natureza e com o que ela nos dá. Na lama, nas poças de água… brincamos muito nas poças de água!"

 

"As crianças têm voz ativa na sala"

Na Sala da Marta trabalha-se de acordo com os interesses e necessidades das crianças, não há uma planificação rigorosa a seguir. As atividades são autênticas e planeadas em conjunto com os mais novos, aplicando os princípios do modelo pedagógico Movimento da Escola Moderna: a partilha, a cooperação e a solidariedade. “O grupo vive uma vida democrática” em que cada elemento é incentivado a participar ativamente, por exemplo, através da descrição de novas experiências ou até mesmo com dúvidas sobre algo que lhe seja desconhecido.

 

“Recentemente, um menino partilhou que tinha participado numa corrida e os colegas não sabiam em que consistia e o que acontecia numa corrida. Às tantas, o grupo queria organizar uma e nós assim o fizemos. Pusemos mãos à obra e, desde dorsais a medalhas, nada faltou. Explicámos a finalidade da corrida e, no mesmo dia, aconteceu! Apesar de parecer pouco, não foi. Aquelas crianças trabalharam muitas áreas ao longo de todo o processo e tudo isto proveniente da experiência de uma criança.”

 

Brincar ao faz de conta também é uma atividade recomendada pela educadora, não só porque estimula a imaginação, mas também porque se brinca com “coisas reais”, mostrando-lhes a diversidade do que os espera na vida adulta – desde a vida doméstica à profissional.

 

"Às vezes eles têm questões e ficam inseguros porque não lhes explicamos as coisas."

No currículo da Marta constam também formações no âmbito da Educação Positiva. Estudar a área ajudou-a de várias formas, acima de tudo com crianças mais agitadas, dando-lhe técnicas e ferramentas que facilitam a interação e a auxiliam a transmitir valores como a bondade e responsabilidade, de forma a que se tornem adultos exemplares e confiantes, tudo através de um diálogo positivo. Mas como?

 

“Neste grupo tinha dificuldades nos tempos de espera, por exemplo, para ir à casa de banho ou atravessar a estrada. Comecei a recorrer à educação positiva para os enaltecer e recordar o papel e a responsabilidade deles, dizendo-lhes muitas vezes: vamos ter de esperar, eu sei que vocês vão conseguir esperar, eu vou confiar em vocês, eu estou aqui com vocês, eu sei que vocês vão conseguir, ok? Então vamos lá, um a um”

 

A Educação positiva, tal como define Martin Seligman (ex-presidente da Associação Americana de Psicologia), “é uma visão da educação que credencia a edificação dos pontos fortes das crianças, o que lhes permite alcançar o seu potencial absoluto.“ (citado por Ramôa, 2016) 1

 

Contextualizar as crianças, dar-lhes segurança e demonstrar confiança nelas e nas suas capacidades – as bases que Marta aplica diariamente e que aconselha a pais e colegas.

Trabalhar na área da educação sempre foi um objetivo, algo que considera que nasceu consigo e que a acompanhou nas suas brincadeiras de criança. Acredita que o facto de ter tido uma experiência muito feliz no colégio que frequentou, onde desenvolveu uma relação próxima com as profissionais, tenha tido influência direta nesta paixão e semeado esta vontade de marcar igualmente a vida das crianças de uma forma positiva.

 

"É a magia de estarmos a criar os futuros cidadãos."

Uma profissão muito recompensadora que também tem dias difíceis, principalmente quando a equipa fica reduzida por algum motivo, mas que são ultrapassados com o colo que as crianças dão sem saberem.

A primeira infância é a etapa que mais a fascina, pois pode acompanhar os primeiros passos e as questões daqueles que serão o nosso futuro, dando-lhes memórias felizes para que sejam pessoas com valores e seguras de si.

Numa área tão importante como a educação, é fundamental a autoavaliação, a reflexão, a procura constante pela evolução. Neste seguimento surgiu a Sala da Marta (@sala_damarta), uma página de Instagram de inspiração e partilha de ideias e práticas entre pares.

 

Referências

Ramôa, M. (2016). A Psicologia positiva aplicada ao contexto escolar [Relatório de Estágio, Escola superior de educação de Paula Frassinetti]. RepositorioEsepf.

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